A década de 1970 testemunhou um período turbulento no cenário geopolítico global, e o subcontinente indiano não ficou imune a essas ondas de mudança. Em meio aos conflitos ideológicos da Guerra Fria, uma nova crise ameaçava eclodir na região: o movimento de independência de Bangladesh (então conhecido como Paquistão Oriental). A Guerra Indo-Paquistanesa de 1971, desencadeada por uma série complexa de eventos históricos, políticos e sociais, marcou um ponto crucial na história do subcontinente indiano, com consequências profundas que reverberam até os dias de hoje.
O palco para este drama geopolítico era o Paquistão, uma nação recém-formada após a partição da Índia em 1947. O país estava dividido em duas partes geograficamente separadas: Paquistão Ocidental (atual Paquistão) e Paquistão Oriental (atual Bangladesh). Apesar de compartilharem um nome e uma religião dominante, os dois territórios eram distintos em termos linguísticos, culturais e econômicos.
O Paquistão Oriental era majoritariamente bengali, falante da língua bengali, enquanto o Ocidental era dominado por grupos étnicos como punjabis e pastoons. Essa disparidade gerou ressentimentos e um sentimento crescente de marginalização entre a população bengali, que sentia-se negligenciada pelo governo central sediado em Islamabad.
As sementes da crise foram semeadas nos anos 60, com o surgimento de movimentos nacionalistas no Paquistão Oriental, defendendo maior autonomia e reconhecimento dos seus direitos linguísticos e culturais. As eleições gerais de 1970, as primeiras realizadas após a adoção de uma nova constituição, intensificaram as tensões.
O partido Awami League, liderado por Sheikh Mujibur Rahman, conquistou uma vitória esmagadora no Paquistão Oriental, mas o governo do general Yahya Khan, que controlava o poder em Islamabad, recusou-se a ceder o poder.
Essa recusa gerou revolta popular no Paquistão Oriental, levando à declaração de independência por Sheikh Mujibur Rahman em 26 de março de 1971. O governo do Paquistão Ocidental respondeu com uma brutal campanha militar, conhecida como “Operação Searchlight”, que visava sufocar o movimento separatista.
A guerra de independência de Bangladesh se desenrolou durante nove meses, marcada por violência e atrocidades em larga escala. Milhares de civis bengalis foram mortos, feridos ou forçados a fugir para a Índia, criando uma crise humanitária sem precedentes.
A Índia, que inicialmente se manteve neutra na disputa, viu-se obrigada a intervir devido à crescente crise refugiada e ao medo da desestabilização regional. Em dezembro de 1971, o exército indiano invadiu o Paquistão Oriental em apoio aos guerrilheiros bengalis.
Em apenas 13 dias de combates, o exército indiano conseguiu subjugar as forças paquistanesas e libertar Dhaka, a capital do Paquistão Oriental. O cessar-fogo foi assinado em 16 de dezembro de 1971, culminando na formação do novo estado independente de Bangladesh.
Consequências da Guerra Indo-Paquistanesa de 1971:
A Guerra Indo-Paquistanesa de 1971 teve consequências profundas e duradouras para a região:
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Formação de Bangladesh: O resultado mais imediato foi a independência do Bangladesh, que se tornou um membro da comunidade internacional.
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Crise refugiada: A guerra gerou uma das maiores crises humanitárias da história, com milhões de refugiados bengalis buscando abrigo na Índia.
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Tensões India-Paquistão: A guerra intensificou as tensões entre a Índia e o Paquistão, que continuam a disputar o controle do Cachemira.
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Ascensão da Índia como potência regional: A vitória na guerra elevou o status da Índia na região, consolidando sua posição como líder militar e político no sul da Ásia.
A Guerra Indo-Paquistanesa de 1971 foi um evento complexo com raízes profundas nas tensões étnicas, sociais e políticas do subcontinente indiano. A guerra deixou marcas indeléveis na região, moldando o destino de milhões de pessoas e redefinindo o mapa geopolítico da Ásia do Sul.